Casos de racismo em 2022 já igualam todo ano de 2021, aponta Observatório da Discriminação Racial no Futebol

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CBF.com – Um dos momentos mais esperados do Seminário de Combate ao Racismo e à Violência no Futebol, realizado nesta quarta-feira (24), na sede da CBF, foi a apresentação do Relatório Anual da Discriminação Racial no Futebol 2021. Não era para menos. Os números registrados na atual edição do documento mostram um aumento de 106% nos casos de racismo nos gramados e arquibancadas brasileiras em relação ao ano anterior. O responsável por tornar estes dados públicos foi Marcelo Carvalho, fundador e diretor executivo do Observatório da Discriminação Racial no Futebol. E ele foi além: 2022 promete apontar estatísticas ainda maiores.

“Esse número de casos é, também, fruto de uma maior conscientização dos torcedores, dos jogadores e da imprensa. Nós estamos vendo uma maior conscientização da população em geral”, apontou Marcelo Carvalho, ao destacar que em 2022, até agosto, o casos de racismo nos gramados brasileiros já igualavam o número de 2021: são 64.

Produzido anualmente desde 2014, logo após a Copa do Mundo no Brasil, o relatório é um importante documento de consulta para órgãos públicos, tribunais desportivos, imprensa e também pesquisadores do tema. Além do aumento nos casos de racismo, que subiram de 31 para 64 entre 2020 e 2021, a edição deste ano traz ainda 24 situações de LGBTfobia, 15 de machismo e outras seis de xenofobia. Os dados correspondem ao período de 1˚ de janeiro a 31 de dezembro, e são levantados através de súmulas das partidas, reportagens e registros de Boletim de Ocorrência.

“Este evento mostra o quanto a CBF está interessada em trabalhar a questão racial. A partir do momento que se traz um relatório com aumento de casos de racismo, você está reconhecendo que existe o problema, o que é uma questão sempre muito delicada. Reconhecer que existe o problema é o que sempre pensei ser a maior dificuldade para avançarmos. Quando a CBF leva para dentro da sua casa a decisão de ‘vamos mostrar que o problema existe e como ele existe’, a gente está dando um passo muito grande. Não está negando mais a presença do racismo na sociedade brasileira e no futebol brasileiro, está dizendo que ele existe, como existe e que agora não será mais tolerado”, comentou Marcelo Carvalho.

De forma inédita, a elaboração do Relatório Anual da Discriminação Racial 2021 contou com apoio institucional e financeiro da CBF. A apresentação do documento na sede da entidade também foi realizada pela primeira vez, sendo realizada dentro de um seminário internacional voltado para a discussão do tema. Essas ações fazem parte de uma parceria de quatro anos firmada entre CBF e o Observatório da Discriminação Racial no Futebol. Segundo Marcelo Carvalho, essa iniciativa será de fundamental importância para a sequência do trabalho e produção das próximas edições.

“Quando a gente fala do monitoramento dos casos de racismo no futebol brasileiro, em algum momento a ideia era ter essa parceria com a CBF. Ela acontece justamente no momento em que a gente tem um aumento de casos substancial. Além disso, ela se concretiza quando a CBF tem o primeiro presidente negro de sua história. Podem achar que foi uma coincidência, mas a gente também pode olhar de fato para alguém que sofre com isso e entende o quanto precisamos discutir e debater o racismo no esporte”, salientou o fundador do Observatório.

“É bom que se diga, este é 8ª Relatório da Discriminação Racial no Futebol e é a primeira vez que conta com o apoio da CBF, que já se comprometeu em apoiar pelo menos pelos próximos 4 anos. Quem mede controla, quem controla, melhora! O relatório anual evidencia com clareza o tamanho do problema que enfrentamos e sua publicação periódica permitirá demonstrar os resultados das nossas ações”, comentou Ednaldo Rodrigues em seu discurso de abertura no Seminário de Combate ao Racismo e à Violência no Futebol.

Além de trazer o registro dos casos de discriminação no futebol brasileiro, um dos aspectos que torna o relatório ainda mais completo, de acordo com Marcelo Carvalho, são os desdobramentos. No documento, além de trazer informações sobre o local, data e as circunstâncias em que os fatos ocorreram, o Observatório da Discriminação Racial no Futebol também indica quais foram as consequências de cada situação.

“Quando iniciamos a elaboração do relatório, lá em 2014, tinha-se a ideia de que o racismo no futebol brasileiro eram apenas casos isolados, não algo estrutural. De lá para cá, a gente consegue assegurar para a sociedade que não, os casos de racismo não são esporádicos e eles não são isolados, eles acontecem com muita frequência. Quando a gente traz os dados e os desdobramentos desses casos, a gente está mostrando, por exemplo, se houve punição ou não”, disse Marcelo, que ainda deu sua opinião sobre o aumento observado entre 2020 e 2021. “Os números de 2021, eles estão muito parecidos com os números de 2019. A gente olha para 2020 e vai ver que a gente teve aquele momento de pandemia. Três meses sem futebol em estádios e oito meses sem torcida, mas quando o público volta para os estádios, os números voltam para aquele patamar alto que a gente tinha anteriormente”, finalizou.

Marcelo Carvalho e Ednaldo Rodrigues celebram parceria entre Observatório da Discriminação Racial no Futebol e CBF. Foto: Lucas Figueiredo/CBF

Nascido em Porto Alegre, casado e pai, Marcelo Carvalho conta que sempre sonhou em prestar um serviço de apoio à comunidade negra. Formado em Administração e pós-graduado em Gestão Esportiva, ele conseguiu aliar duas paixões no trabalho que passou a desenvolver.

“O primeiro trabalho que eu sempre pensei em fazer era de reconhecimento a expoentes negros que foram apagados ao longo do tempo, só que eu vi que é um trabalho muito mais de pesquisa acadêmica, de pesquisador, de história… Essa não é a minha área de atuação. Quando eu olho para o racismo no futebol, eu junto a minha paixão pelo esporte com a vontade de um dia trabalhar a questão negra.”

Na apresentação do relatório nesta quarta-feira (24), Marcelo Carvalho teve a companhia de Onã Rudá, fundador do LGBTricolor e do Coletivo de Torcidas Canarinhos LGBTQs. Em sua fala, ele ressaltou a importância dos clubes apoiarem causas contra a homofobia, a exemplo do que faz o Bahia, clube pelo do qual ele é torcedor. Ele também relembrou iniciativas do passado, como a Coligay, torcida organizada do Grêmio, que fez sucesso entre os anos 70 e 80.

Onã Rudá, fundador do LGBTricolor e do Coletivo de Torcidas Canarinhos LGBTQs.
Foto: Lucas Figueiredo/CBF

O Seminário de Combate ao Racismo e à Violência no Futebol é uma iniciativa da CBF, com apoio e parceria da FIFA, da CONMEBOL e do Observatório da Discriminação Racial no Futebol. O evento foi realizado pela primeira vez nesta quarta-feira (24), e promete ser um pontapé inicial em uma nova era de combate à discriminação no futebol brasileiro.

O Seminário de Combate ao Racismo e à Violência no Futebol é uma iniciativa da CBF, com apoio e parceria da FIFA, da CONMEBOL e do Observatório da Discriminação Racial no Futebol. O evento foi realizado pela primeira vez nesta quarta-feira (24), e promete ser um pontapé inicial em uma nova era de combate à discriminação no futebol brasileiro.

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