Náutico encerra temporada com um título e uma permanência, mas inconsistência tira o acesso e até mesmo um título nacional

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Por Filipe Almeida – No fim da temporada de 2020, que por causa da pandemia, se encerrou em janeiro, o Náutico tinha lições valiosas para carregar para esta temporada: Manter a base do acesso da Série C não foi uma boa estratégia, era necessário reforçar a defesa para evitar os gols sofridos nos minutos finais e o banco de reservas tinha que ser tão bom quanto a equipe titular.

No começo da temporada, o Náutico só tinha o Pernambucano e a Série B para disputar, o que significava ter recursos limitados para contratação. O Timbu começou então a trazer jogadores emprestados e renovar os empréstimos com jogadores que vingaram na temporada passada. E o que parecia que iria ser um ano de dificuldade, foi totalmente o contrário. O Náutico começou ganhando sete jogos seguidos de maneira dominante, com um futebol ofensivo e esmagador. A estratégia do treinador Hélio dos Anjos, que chegou a ser elogiada até mesmo pelo técnico Tite, promovia uma pressão na saída de bola adversária e um intenso ataque durante toda a primeira etapa. Essa estratégia garantiu o título para o Náutico, que só perdeu um jogo em todo o campeonato, para o rival Sport, em um jogo que o Timbu jogou com seus reservas já que nada valia para a equipe alvirrubra.

O Quarteto Alvirrubro. Foto: Tiago Caldas / CNC

O título do estadual revelou ao país um quarteto que foi responsável por 22 dos 28 gols na campanha do Náutico: Kieza, Vinícius, Erick e Jean Carlos. O quarteto ofensivo do Timbu mostrou como poderoso o ataque alvirrubro era, e que com certeza eles seriam uma ameaça às equipes da segunda divisão. Já no quesito defesa, além do xerife Camutanga, o Náutico contava no começo com Ronaldo Alves, mas após sucessivos erros do zagueiro, a vaga foi herdada para Wagner Leonardo, cria do Santos emprestado ao Timbu até o fim da temporada. Wagner demostrou que era o homem para a vaga, ajudando bastante o Náutico defensivamente do final do pernambucano até o começo da Série B.

Já no campeonato nacional, o Náutico já era um dos favoritos ao acesso devido à grande campanha no estadual, mas não se sabia ao certo como o Timbu iria lidar com a diferença entre as equipes pernambucanas e os elencos das equipes da Série B. Mas o Náutico parecia tão imbatível quanto no estadual, começando com cinco vitórias consecutivas. A quinta, contra o recém rebaixado Botafogo, mostrou como a equipe era bastante qualificada ofensivamente, não dando espaço para a equipe carioca respirar em campo. Mas a sequência de três empates demostrou uma preocupação que vinha da temporada passada: Os gols tomados nos minutos finais. A partida contra o CRB também marcou o fim do quarteto fantástico, já que o Náutico não conseguiu negociar a permanência de Erick com o Braga, detentor dos seus direitos e viu o seu ponta direita ir para o Ceará.

Kieza ficou de fora do resto do campeonato. Foto: Tiago Caldas / CNC

Outro grande problema surgiu nos Aflitos. Após fazer o primeiro gol no empate de 1×1 contra o Brusque, o atacante Kieza pisou em falso e rompeu o tendão de Aquiles, o que tirou o artilheiro alvirrubro de todo o campeonato. Esse golpe foi bastante sentido pelo elenco do Náutico, que não tinha mais seu capitão e referência em campo. Outro golpe foi a saída do zagueiro Wagner Leonardo, chamado de volta pelo Santos a mando de Fernando Diniz para cobrir a saída de Luan Peres, que foi para o futebol francês. As duas perdas eram um alerta ao Náutico para reforçar o seu elenco e o banco de reservas, algo que já era muito requisitado desde o estadual.

O Náutico ainda conseguiu se manter invicto por mais seis rodadas, quebrando o recorde que antes era do Corinthians de 2008 de 14 jogos sem perder na Série B. Até a 14ª rodada, o Náutico tinha vencido oito jogos, empatado seis, feito 23 gols e só tinha sofrido oito gols. A solução da diretoria foi trazer de volta dos empréstimos Rafael Ribeiro e Carlão, dois zagueiros que estavam no Fluminense e no Corinthians, respectivamente.

Rafael Ribeiro foi um dos que mais falhou defensivamente na zaga alvirrubra. Foto: Tiago Caldas / CNC

Na décima quinta rodada, contra o vice-líder Coritiba no Couto Pereira, o Náutico já não tinha o seu capitão e artilheiro, o seu zagueiro de segurança e nem o seu ponta direita habilidoso, receitas perfeitas para a primeira derrota no campeonato, por 3×1. Daí para frente, o Timbu só foi para baixo. A partida seguinte, contra o então lanterna Confiança em casa, o Náutico perdeu por 4×0, em uma partida que o time que entrou em campo não parecia ser o time ofensivo e avassalador do começo do campeonato. O Náutico perdeu cinco jogos seguidos, que culminou no pedido de demissão de Hélio dos Anjos e a saída do Timbu do G4 da competição.

Chamusca chegou em um momento delicado para o Timbu. Foto: Tiago Caldas / CNC

A chegada de Chamusca foi uma dúvida entre os torcedores. O último trabalho do treinador no Botafogo não tinha sido muito bom e a equipe estava longe da zona de classificação. Mas o cartão de visitas do treinador foi uma vitória contra o CSA fora de casa, o que acalmou os bastidores alvirrubro. O Náutico ainda tinha problemas defensivos, que ficaram claros nos dois jogos em casa contra o Vitória e o Guarani, em que o Timbu tinha a vitória encaminhada, mas por um vacilo do lateral Hereda, nas duas ocasiões, resultaram no gol de empate adversário.

Depois dos dois empates, o Náutico novamente colecionou uma sequência de cinco derrotas. A terceira derrota, contra o Londrina em casa, resultou na demissão de Chamusca, que só teve cinco jogos no Náutico: uma vitória, dois empates e três derrotas, e em menos de uma semana, o Náutico acertou a volta de Hélio dos Anjos ao comando da equipe. Hélio estreou com uma derrota para o CRB na Arena, partida que marcou a volta da torcida ao estádio. Mas no jogo seguinte, o Náutico voltou a vencer no campeonato, com uma vitória apertada contra o Operário fora de casa. Essa vitória destacou três personagens: Caio Dantas, Júnior Tavares e Anderson.

Caio marcou cinco gols com a camisa alvirrubra. Foto: Tiago Caldas / CNC

Caio veio ainda no primeiro comando de Hélio para substituir Kieza. Artilheiro da edição passada do campeonato, o atacante fez três partidas: Contra o Sampaio Corrêa, Avaí e contra o Cruzeiro, e em todas ele passou em branco. Chamusca nunca chegou a treinar Caio, já que o atacante sentiu a coxa minutos antes do jogo contra o CSA e só voltou a jogar na partida contra o Operário. O atacante marcou o seu primeiro gol com a camisa alvirrubra no jogo da volta e marcou mais quatro nas partidas seguintes. Já Júnior Tavares, ex-Sport, veio reforçar a lateral depois de vários erros grotescos do setor, mas após a lesão de Bryan, Júnior se tornou uma necessidade para o time. O goleiro Anderson era o querido da torcida desde a Série B do ano passado, mas a diretoria nunca conseguiu fechar um acordo com o Athletico, clube formador do jovem goleiro. Alex Alves, goleiro anterior, foi trazido para ser temporário, desde o pernambucano, mas os problemas na negociação com Anderson deixaram Alex até o jogo contra o Operário, quando finalmente o acordo foi selado e Anderson pode voltar ao Timbu.

O Náutico embalou três vitórias importantes, contra o Operário, Goiás e Ponte Preta. Em todos eles o Timbu venceu de virada e sofrido, concedendo gols e depositando as esperanças no ataque. Mas a sorte do ataque marcar mais que a defesa leva, acabou no empate por 2×2 contra o Vasco, em que o Náutico saiu atrás por 2 gols em duas falhas defensivas, buscou o empate, mas não conseguiu a virada.

As derrotas para Brasil de Pelotas e Brusque foram com gols sofridos nos minutos finais. Foto: Tiago Caldas / CNC

Os dois jogos em seguida, contra o lanterna Brasil e o Brusque eram essenciais para o Náutico. Ambas as equipes disputavam o rebaixamento, e essas vitórias significariam a volta do Timbu ao G4. Mas dessa vez, nas duas partidas, a defesa alvirrubra falhou mais do que o ataque pode marcar, perdendo por 3×2 e por 4×3, respectivamente. Essas duas derrotas praticamente tiraram as chances do Náutico de subir, já que agora dependia de uma combinação surreal para poder garantir o acesso.

O Timbu ainda venceu o líder Coritiba em casa, e empatou sem gols contra o Confiança fora de casa. No jogo em que perdeu todas as suas chances de subir, uma vitória em casa contra o Sampaio por 2×1, perdendo em seguida para o Avaí e empatando seu último jogo contra o Cruzeiro, encerrando sua participação em oitavo lugar com 53 pontos.

Os pedidos de reforço na defesa pela torcida não foram atendidos pela diretoria alvirrubra, e isso custou caríssimo ao Timbu. Se antes da 14ª rodada o Timbu só tinha tomado oito gols, nas 14 seguintes ele sofreu 25, encerrando o campeonato com incríveis 50 gols sofridos. Por outro lado, o Náutico fez 50 gols, o que o tornou o terceiro melhor ataque do campeonato. Esse abismo entre ataque e defesa no centro da tabela entre saldos negativos e positivos com 0 de saldo. Esta foi a pior temporada do Timbu defensivamente desde 2013, quando caiu da primeira divisão. Em toda a temporada, o Náutico disputou 50 jogos e sofreu 64 gols. Em 2013, o Timbu tinha sofrido 108 gols nas suas 65 partidas.

O treinador Hélio dos Anjos ficou feliz com o trabalho e a entrega do Náutico por toda a temporada. Foto: Tiago Caldas / CNC

O técnico Hélio dos Anjos fez depois do jogo contra o Cruzeiro a sua avaliação da temporada: “Sei que trabalho no Brasil e a realidade aqui é totalmente diferente em relação à cobrança de resultados e não ter projetos e planejamento dentro das equipes. Na minha concepção: 54 jogos na temporada, desenvolvemos um trabalho para não deixar o Náutico cair para a Terceira Divisão. O Náutico vinha de um acesso, depois de dois anos na Série C, e na primeira temporada o Náutico conseguiu sobreviver e ser o 16º colocado. Saímos da temporada e fomos para o Campeonato Pernambucano em uma condição que todo mundo queria de todas as formas a conquista e ela foi alcançada. Em cima da conquista nós ganhamos um calendário digno, que não tivemos esse ano, digno da grandeza do Náutico, com Copa do Nordeste e do Brasil”, avaliou o treinador.

Hélio também avaliou o desempenho do Náutico no brasileirão: “Saímos para o Campeonato Brasileiro, sabíamos da enorme dificuldade, e impomos um estilo de jogo, tivemos infelicidades, problemas que normalmente acontecem de perdas de jogadores, e galgamos oito posições em relação à temporada passada. Em qualquer lugar do mundo, quando se faz planejamento, isso seria uma grande conquista. Esse é um sinal que esse trabalho está frutificando. Então estou, acima de tudo, e entendendo que somos Brasil, mas eu gosto muito de pensar que o que foi proposto para e pelo clube nós conseguimos fazer, porque a questão de investimento, é muito importante lembrar: nenhuma equipe com investimento menor do que o nosso está à nossa frente na competição, nenhuma mesmo. Então, quer dizer, o projeto da temporada foi positivo sim. Queríamos muito mais, mas estou feliz com o trabalho do grupo todo do Náutico” avaliou o treinador.

Vinícius marcou oito gols na Série B, 13 em toda a temporada. Foto: Tiago Caldas / CNC

Nos bastidores, a temporada encerrou conturbada, com denúncias de assédio de ex-funcionário e atrasos de salários de outros funcionários. E tudo isso influencia na data mais importante para o Náutico nos últimos anos: As eleições do dia 05 de dezembro. O Náutico também encerrará a sua temporada com o quarteto praticamente desmanchado, com a saída de Vinícius e uma possível saída de Jean Carlos com uma proposta do futebol árabe. Jean tem contrato com o clube até 2024, e sua multa de quase 19 milhões pode ajudar o clube a se estrutura visando 2022. A permanência do meia é preferida entre a torcida e a diretoria, que também busca manter Caio Dantas, mas a lista de dispensa é muito maior que a de manter, o que significa um investimento pesado no mercado.

Em resumo, o Timbu falhou em manter a base da temporada passada e não reforçar a equipe antes da Série B. Falhou em não procurar jogadores para o banco de reservas que trouxessem de fato algum impacto nas partidas em que fossem acionados. Falhou também em não reforçar o seu setor mais deficiente desde o pernambucano: A defesa, que vazou muito durante o campeonato e mesmo assim, o vice-presidente do clube chegou a falar em um programa de TV que a equipe tinha “Quatro zagueiros de alto nível”, o que claramente não era o caso.

Jean foi sem dúvidas o melhor jogador do Timbu. Foto: Tiago Caldas / CNC

Mas nem tudo foi erros. Diferentemente do ano passado, o Náutico teve mais vitórias do que derrotas e empates, foram ao todo 14 vitórias, 11 empates e 13 derrotas, encerrando com um aproveitamento de 46,5%. Ano passado o Timbu encerrou em 16º, e o 8º lugar deste ano demonstra a melhora da equipe. O Náutico teve como o seu melhor jogador o meia Jean Carlos, eleito duas vezes o melhor do mês no brasileirão e possui a melhor nota no site de dados SofaScore. Jean também foi o artilheiro do Timbu, com 11 gols. Com o terceiro melhor ataque do campeonato, o Náutico não deixou de marcar nos jogos, e fez 15 gols a mais que na temporada anterior, quando terminou com -7 de saldo.

Se o Timbu deseja subir para a Série A no próximo ano, é necessário manter apenas aqueles que se destacaram no time, contratar não apenas bons jogadores para o time titular, mas reservas habilidosos e preparados para assumir as posições a qualquer momento, e ter sucesso nos campeonatos de pré-temporada, pincipalmente a Copa do Brasil e a Copa do Nordeste, que geram mais recursos que certamente ajudarão o clube a formar seu elenco para a Série B.

Tudo o que envolve o planejamento para 2022 está sustentado nas próximas eleições. O resultado das urnas alvirrubras poderá definir qual temporada o Timbu fará próximo ano: Uma temporada de glórias e títulos, ou uma temporada de sofrimento e agonia que o Náutico tanto viveu nos últimos 10 anos.

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